Desde criança sempre fui apaixonado por astronomia. É difícil olhar para o céu numa noite estrelada e não mentalizar o quão minúsculos somos em relação ao infinito Universo que nos rodeia: galáxias, planetas, estrelas, asteroides, quasares... tantos astros incríveis e peculiares que acabam ofuscando nossa casa, nosso lar, o nosso querido pontinho azul.
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É nós na fita! |
Carl Sagan foi um grande cientista do século passado. Astrônomo, cosmólogo, físico e escritor, nasceu numa família humilde no Brooklyn, Nova Iorque, Estados Unidos, e foi tomando gosto pela ciência, tanto que ao longo do tempo sua formação multidisciplinar lhe propiciou um cargo de conselheiro e consultor da NASA desde os anos 1950 e foi lá, chefiando a equipe da sonda Voyager, que Sagan teve a ideia de tirar uma fotografia do nosso planeta a mais de 6,4 bilhões de quilometros de distância. Seria possível? Seria visível? Seria útil? Sim.
Ao observarmos essa fotografia não podemos deixar de pensar que nossa casa não passa de uma minúscula palha num agulheiro, um lugar tão pequeno que é difícil de acreditar nas coisas que nele ocorreram. Avanços, guerras, revoluções, todos os fatos que ocorrem e ocorreram estão e estiveram ali, nequele tímido pixel, naquele grão de poeira sustentado pelo raio de sol, naquele pálido ponto azul.
Carl usou de sua genialidade e escreveu este belíssimo discursso, que trazemos em primeira mão aqui no GDT, tanto em texto quanto em vídeo (quem quiser uma versão para locutor de rádio mande-nos um e-mail):
Nós Estamos Aqui: O Pálido Ponto Azul (tradução)
(Carl Sagan)
A espaçonave estava bem longe de casa. Eu pensei que seria uma boa idéia, logo depois de Saturno, fazer ela dar uma ultima olhada em direção de casa.
De Saturno, a Terra apareceria muito pequena para a Voyager apanhar qualquer detalhe, nosso planeta seria apenas um ponto de luz, um "pixel" solitário, dificilmente distinguível de muitos outros pontos de luz que a Voyager avistaria: Planetas vizinhos, sóis distantes. Mas justamente por causa dessa imprecisão de nosso mundo assim revelado valeria a pena ter tal fotografia.
Já havia sido bem entendido por cientistas e filósofos da antiguidade clássica, que a Terra era um mero ponto de luz em um vasto cosmos circundante, mas ninguém jamais a tinha visto assim. Aqui estava nossa primeira chance, e talvez a nossa última nas próximas décadas.
Então, aqui está - um mosaico quadriculado estendido em cima dos planetas, e um fundo pontilhado de estrelas distantes. Por causa do reflexo da luz do sol na espaçonave, a Terra parece estar apoiada em um raio de sol. Como se houvesse alguma importância especial para esse pequeno mundo, mas é apenas um acidente de geometria e ótica. Não há nenhum sinal de humanos nessa foto. Nem nossas modificações da superfície da Terra, nem nossas maquinas, nem nós mesmos. Desse ponto de vista, nossa obsessão com nacionalismo não aparece em evidencia. Nós somos muito pequenos. Na escala dos mundos, humanos são irrelevantes, uma fina película de vida num obscuro e solitário torrão de rocha e metal.
Considere novamente esse ponto. É aqui. É nosso lar. Somos nós. Nele, todos que você ama, todos que você conhece, todos de quem você já ouviu falar, todos os seres humanos que já existiram, viveram suas vidas. Todas as nossas alegrias e sofrimentos, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e saqueador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e plebeu, cada casal apaixonado, cada mãe e pai, cada criança esperançosa, inventore e explorador, cada educador, cada político corrupto, cada "superastro", cada "líder supremo", cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu ali, em um grão de poeira suspenso em um raio de sol.